A partir desse momento, há a necessidade de marcar os que não são verdadeiros KAIRU ou verdadeiros KAMÉ, distinguindo-os daqueles que se reconhecem como descendentes dos "pais ancestrais".
Dentro da metade KAIRU distinguem-se os Kairu, cuja pintura são pontos, dos Votor, cuja pintura são círculos. Dentro da metade KAMÉ distinguem-se os Kamé, cuja pintura são traços verticais, dos Wonhétky, cuja pintura é um traço curvo, da boca até a orelha.
Há portanto uma distinção hierárquica entre os que são os descendentes diretos dos pais fundadores KAMÉ e KAIRU, cujas seções reúnem até hoje a maioria da população de cada aldeia, e os que foram incorporados a cada metade, porém marcados como "não tão" KAMÉ, ou seja, os Wonhétky, e "não tão" KAIRU, isto é, os Votor. As seções Votor e Wonhétky não são, porém, somente papéis cerimoniais, uma vez que o pertencimento tanto à seção Votor quanto à seção Wonhétky é patrilinear e, à semelhança do que ocorre com Kamé e Kairu, filho de pai Votor é Votor, filho de pai Wonhétky é Wonhétky.
O que teria levado autores como Nimuendaju e Baldus a identificar Votor e Wonhétky com categorias ou classes cerimoniais é o fato de que realmente eles possuem obrigações na vida cerimonial e nos ritos funerários da sociedade Kaingang. Seriam de certa forma "auxiliares" dos péin , uma categoria cerimonial por excelência, havendo os péin dos KAMÉ e os dos KAIRU. Eles são encarregados de lidar com os defuntos, com o cemitério e com os viúvos/as. Esses serviços são sempre prestados como reciprocidade à metade oposta. A seção Votor têm uma função cerimonial específica de abrir e fechar um "buraco" no cemitério por ocasião do Kikikoi , segundo soubemos no Xapecó. Conforme Baldus, os Votor podem ajudar os péin , e até tornar-se totalmente péin , mas um péin não pode se tornar Votor (Baldus 1947a:81). |