Baldus também percebe uma "consideração diferente entre os grupos dentro das 'metades'", e para ele a origem da divisão e da própria diferenciação estaria "pendente de solução": "se esta formação de grupos indica antigas camadas sociais ou mesmo étnicas" (Baldus [1937] 1979:18). Para Helm (1977:101), "os clãs tem denominações específicas: Kandnyeru, Votoro, Kamé, Aniky, Dorim (...) em São Paulo Pervi, Japeji, Venreie, Foerekukron, que não encontramos no Paraná." A autora não classifica-os com metades ou pinturas, embora afirme que opõe redondos à compridos.
No mito de origem dos Kaingang registrado por Telêmaco Borba verificamos que aparecem quatro grupos humanos distintos: os de Kairu e Kamé; o dos Kaingang (Caingangues), com quem os dois primeiros estabelecem também uma aliança; e os Kurutu (Curutons), "escravos fugidos". Penso que, não por acaso, são também 4 as seções Kaingang.
Os KAMÉ e KAIRU são, simultaneamente, os pais ancestrais, as metades clânicas e as duas seções numericamente majoritárias; Votor e Wonhétky são as seções minoritárias e exercem funções cerimoniais.
A resposta que encontro, portanto, para as questões que levantei, partem de uma leitura que valoriza o mito de origem, admitindo que no tempo mítico os Kaingang organizavam-se simplesmente como metades KAMÉ e KAIRU e que, num determinado momento, fizeram aliança com um terceiro grupo, os Caingang, e por fim, incorporaram também os Curuton.
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